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OPINIÃO: Que bom que eu tenho tu

Há 31 anos atrás nascia minha filha favorita, dentre quatro favoritos. A menina depois de três guris. No meio de tantos guris, só acreditei vendo que era uma menina. Brincos só foram comprados após o nascimento. Depois de uma gravidez tranquila e sendo o quarto parto normal, a menina resolveu causar e tivemos muitas dificuldades na hora do nascimento. Nas mãos abençoadas e competentes da Dra. Elaine Resener, chegou ela _ loiríssima, olhos verdes e nada de cabelo. Uma genuína Tocchetto, uma mistura das descendências italiana e alemã com uma pitada de espanhola, de minha parte. Uma menina linda que, pouco antes das 8h, foi entregue ao pai ainda meio desajeitado.

Quando eu era jovem e pensava um dia em ter uma filha, desejava fervorosamente que ela tivesse cabelos lisos e escorridos, tamanho era o sacrifício que meus cabelos me impunham. Toda a semana era necessário fazer banho de óleo e touca para baixar o volume. O ritual dos cabelos era demorado, pois eu me sentia a irmã do Urso do Cabelo Duro, se secassem ao natural. O cabelo lavado e molhado era enrolado, mecha a mecha, com grandes rolos plásticos. Depois de quase uma hora de secador que mais parecia um grande capacete espacial, o cabelo era enrolado ao redor da cabeça, formando literalmente uma touca.

Primeiramente para um lado e depois para outro, com todo o cuidado para os grampos não marcarem os fios. O resultado nem sempre era o desejado, mas era o melhor que as técnicas capilares da época permitiam. Um sacrifício semanal para uma crespa que queria ser lisa, pois este era o padrão da época. Meu outro desejo era que a minha filha fosse tão delicada quanto a princesa da estória do Mundo da Criança, que após se perder e conseguir pouso em uma casa na floresta, teve a sua nobreza testada pelos moradores. Sob 20 colchões de pena de ganso, eles colocaram uma ervilha e como esperado, a forasteira dormiu mal devido a presença do grão. Delicadeza que eu jamais tive. Nunca fui uma menina feminina. Adorava brincar de pegar com os meninos. Era uma meia-calça por dia. Sempre furavam nos joelhos devido as quedas no pátio de cimento do colégio. Os esfolados nunca cicatrizavam. Este jeito nunca foi motivo de orgulho para o meu pai. Era também motivo de comparação com as minhas irmãs. Desejei com tanta intensidade que, no cabelo da minha filha, não param grampos. Nem babyliss encrespa! A pele tão delicada não permite andar de pés descalços. Acredito que seria aprovada com louvor no teste da ervilha e, ainda com menos colchões. Hoje, pouco importa o cabelo e a delicadeza física. Importante é a mulher brilhante, segura, inteligente que ela se tornou. Ao completar 31 anos, homenageio-a com orgulho e com a certeza que há um legado intangível quando criamos os filhos para serem pessoas do bem, justas e honestas, além de bonitas e inteligentes. Graciela, que bom que eu tenho tu!


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